quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Carta de quase despedida ao único amor verdadeiro

Em algum lugar, em algum dia de um ano qualquer.


Oi, tudo bem?

Sei que há muito tempo não nos falamos, mas me peguei esses dias com a estranha sensação de que ainda há algo para definir. Parece que há uma tendência a retornarmos ao mesmo ponto e resolver eternas pendências. Eu realmente achei que tudo já estava definido e que não havia mais nada para resolver, negociar ou esquecer. Mas pelo que sinto ainda estamos ligados, de alguma forma, por uma força invisível que me empurra em sua direção toda vez que você resolve dar algum sinal de vida. É certo que eu já investi em você quase tudo: quase todas as minhas primeiras experiências, quase toda minha juventude, quase todo sentimento que um dia, ingenuamente, pensei ser amor, boa parte de minhas lágrimas e uma porção considerável de atenção, projetos e afeto incondicional. Mas não, definitivamente, eu não te amo mais e acho improvável que já tenha amado. Talvez tenha amado a idéia de amar alguém, porque era bonito, louvável e romântico, como deve ser para uma mocinha delicada e servil. Na verdade eu caí na armadilha das mentiras contadas a meninas crédulas demais como eu fui um dia. “Você nunca mais esquecê-lo, o primeiro namorado a gente nunca esquece, marca como mancha de catapora. Você vai sentir que nunca mais vai amar ninguém na vida, que ele é seu único amor verdadeiro, como o Ken da Barbie ou o príncipe da Cinderela e blá, blá, blá” . Dediquei oito anos de minha vida a esta crença e desperdicei boas chances de ter uma existência diferente e mais proveitosa. Talvez se tivessem me contado a verdade mais cedo, antes que eu descobrisse sozinha a duras penas, eu seria bem diferente do que sou hoje. Nem pior, nem melhor, quem vai saber? Só diferente. Mas tenho de convir que foi você quem me fez ver que o único amor verdadeiro é tão falso quanto uma nota de três reais. Graças aos delírios que nutri a seu respeito percebi que amores de verdade ou de mentira não “aparecem”, são construídos como toda e qualquer relação. Não, meu bem, você não me faz mais falta, aliás, depois que nos encontramos pela última vez não lembrava mais que você ainda existia. Sem o intuito de ofender, mas não pensei em você um só segundo destes dias em que estivemos longe. Agora você volta a invadir meus pensamentos como o intruso que sempre foi, mas não da maneira de antes. As coisas agora são diferentes. Eu mudei, você mudou e a situação também é outra. Só estou escrevendo pra você saber que foi importante; mais do que deveria e que dediquei muito de mim a ti; mais do que qualquer pessoa com um mínimo de sanidade seria capaz. Enfim, meu caro, algumas coisas nunca mudam, só se reconfiguram. Eu continuo insana, mas não te amo mais.



Até um dia desses.



quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Mais do mesmo


Depois de uma eternidade presa na fortaleza da solidão, retorno, ressurgida das cinzas e misturando mitologia com estória de super heróis. Voltei bem mais cansada, dez anos mais velha e quase derrotada. Mas se é o jeito passar o resto da vida me adaptando às situações, vou seguindo, meio Fênix, meio super girl. E em meio a adaptações e à esquizofrenia latente, porém contingente e perfeitamente justificada e justificável, andei por aí, lutando contra e à favor de muita coisa vã, flagrada em contradição, tomando decisões e voltando atrás . Enfim, em essência, contraditória, como todo mundo. Minha maior contradição é justamente ser tão resistente a mudanças e ao mesmo tempo querer tanto mudar o mundo (ao menos o meu, pra soar menos utópico). Acho que é a incoerência que traz toda forma de adaptação a um mundo igualmente incoerente e desadaptado.

Talvez eu tenha mesmo só que viver minha vida e, às vezes, a de outras pessoas, nem sempre de verdade, pra ver se eu consigo aprender alguma coisa nova, resolva minhas incoerências e assim, traga um pouco mais de satisfação a esta vida experimentada de forma tão insatisfeita. E talvez seja exatamente minha reticência em encarar certos fatos, minha indecisão em resolver alguns problemas que freie meu crescimento e minha paz. O que eu posso concluir é que, por enquanto, sou indecisão, insatisfação e contradição, tudo misturado, que nem massa de bolo, no mesmo crânio fraturado de levar uma pancada atrás da outra.

Aqui, sem dúvida, é o lugar que mais me faz refletir sobre mim mesma, é onde me sinto mais à vontade pra divagar e tentar achar algo que faça algum sentido, sem querer me apropriar dos méritos filosóficos, essa não é a intenção. Eu não pretendo dar lições de moral, nem impressionar conhecidos ou desconhecidos, enfim, minhas intenções são tantas outras que nem saberia explicar, inclusive, acho que querer me explicar é sempre meu grande mal, o defeito de quem foi sempre tão insegura e carente. Como se pode ver (ou ler), nada novo, são só os mesmos problemas, resolvidos quase sempre da mesma maneira, em situações irritantemente semelhantes.

Eu já desisti de muitas coisas, por covardia, preguiça, ingenuidade, ou até mesmo por ser eternamente insatisfeita, indecisa e contraditória, mas não desisti de tantas outras porque não deixo de acreditar nas possibilidades, mesmo que as contingências ainda me levem a pensar o contrário. É por isso que não pretendo desistir disso aqui e por isso me senti tão mal em negligenciar este espaço, em optar pela vida real em tempo integral, já que, é só aqui que me forço a considerar as minhas inquietações e tentar resolvê-las de maneira mais ou menos serena.

Escrevendo eu sou obrigada a pensar e me dar conta que nem todo mundo é leal como diz, nem mesmo eu em algumas situações, nem comigo, nem com os outros, e que se em algum momento eu me vir fazendo e falando coisas que estão fora da minha rotina ou que eu abomino, não significa que eu perdi minha identidade. Que a dedicação eterna e incondicional declarada em toda forma de amor só é concreta enquanto as primeiras dificuldades não surgem e enquanto, de uma maneira ou outra, você ainda é conveniente. Aqui, eu vejo cristalizado em frases sem sentido e de impacto medíocre tudo o que eu não queria ser ou ver e admitir que em algumas situações eu estarei mesmo sozinha, por abandono ou necessidade. Enquanto isso eu vou vivendo por aqui e por aí, engolindo à seco minhas decepções, planejando o futuro como se adiantasse alguma coisa.

No fim, a gente faz mesmo o que pode e por isso eu acredito tanto em possibilidades e se ainda for mesmo possível, mesmo fazendo as mesmas coisas, quase do mesmo jeito, quero poder recomeçar e fazer o mínimo de certo, pra fazer o mínimo de diferença em qualquer coisa, em qualquer lugar, pra qualquer pessoa.