domingo, março 21, 2010

Sobre opressão e o "sexo frágil"

"Sou fera, sou bicho, sou anjo e sou mulher. Sou minha mãe, minha filha, minha irmã, minha menina. Mas sou minha, só minha e não de quem quiser. Sou Deus. Tua deusa, meu amor."
1º de JULHO - LEGIÃO URBANA


"Mulher é um bicho complicado." Foi com base nesta memorável representação sobre as mulheres proferida por um nobre cavalheiro, conhecido meu,  em pleno mès de comemoração de seu dia que pensei em algumas considerações a respeito das distinções históricas entre machos e fêmeas. Com certeza não há nada de novo nestes pensamentos, mas há em mim uma necessidade crescente de reflexão sobre algumas posturas, para, quem sabe, o esboço de um movimento timidamente revolucionário.

Pois bem. Ainda não se superou o conflito que vem da seguinte dúvida: somos mesmo complicadas, um saco de hormônios desregulados ou são nossos estimados machos tão preguiçosos a ponto de nem se darem ao trabalho de se comprometer e compreender o que acontece além do que a visão em túnel lhes permite enxergar? De quem será a culpa (ou responsabilidade) pela falha comunicacional entre os habitantes de Marte e de Vênus?

O fato é que somos seres socialmente construídos e a nossa cultura (sobretudo a piauiense) promove homens acomodados e mulheres carentes. Neste caso surge uma insatisfação e uma esperança. Insatisfação por estarmos presos a uma engrenagem cruel com a categoria feminina, já que o ônus e a culpa estão sempre pesando na nossa bagagem emocional. Esperança por saber que ainda se pode romper com certos padrões, mesmo que isso soe como uma ideologia barata e ingênua. Infelizmente, no fim das contas, se avaliarmos bem certas situações do cotidiano perceberemos (ou constataremos) que a corda sempre arrebenta do lado do "sexo frágil."

Não é incomum se recorrer ao velho clichê psicanalítico (falando bem grosseiramente) pra justificar as perversões, neuroses e psicoses nossas de cada dia. Quando tudo dá errado ou quando sofremos de qualquer transtorno a culpa é da mãe, que à princípio é mulher (as possibilidades de papeis sociais são imensas). Falando em clichê, recorreremos às velhas comparações. Se um homem é bem sucedido, rico e solteiro aos 40 anos é um bom partido, se é a mulher que possui essas qualidades é mal amada ou perdeu muito tempo querendo ser um homem. Papai e mamãe ensinam à menina a ser doce, delicada, recatada e servil e ao menino a ser forte, viril, determinado e firme. Não é à toa que o encontro entre essas duas criaturas é controverso desde o início, já que são estimulados a terem posturas quase antangônicas, principalmente no que diz respeito ao embate Recato X Virilidade. Porém, se aliado ao recato o fator subserviência estiver bem internalizado a força e a virilidade vencem de 10 X 0.

Faz parte dos direitos e deveres da mulher seduzir, conquistar e manter o relacionamento. Da mesma forma que a responsabilidade pelo fracasso de uma relação é inevitavelmente da mulher, seja porque ela é uma chata-carente, uma doida-displicente ou um coração de pedra incapaz de se comprometer. É atribuição da mulher apimentar a relação, descobrir coisas novas e trazer fantasia á realidade e é também ela que na maioria das vezes cede sexual e emocionalmente. E a sensação que fica é que é preciso ser a princesa perfeita pra conquistar qualquer sapo e ao que parece há mais princesas que sapos nesta lagoa, o que valoriza a cotação deles (a maldita lei da oferta e da procura) oferecendo-lhes as melhores possibilidades e nos deixando quase sem escolha.

É claro que todos estes argumentos são feitos de forma bem generalizada e não se trata de defender a supremacia do feminino sobre o masculino, mas como prega uma grande amiga, é uma questão de igualdade de direitos. Trata-se de amadurecer pensamentos sobre as posturas masculinas e femininas pra saber como negociar, como se libertar da opressão de uma vida inteira sem precisar partir pra ignorância ou queimar roupas íntimas em praça pública, pra refletir sobre a educação de nossos filhos, pra tentar mudar o mínimo, pra treinar a empatia e saber dialogar com nossos ficantes, namorados e maridos, pra conservarmos nossa dignidade nos atos mais simples. Definitivamente, não se trata de quem é frágil ou forte, é uma questão de entender e enxergar as multiplicidades.