sexta-feira, janeiro 07, 2011

Sobre mentiras sinceras e vaidade


Em vinte e oito anos eu nunca fui uma pessoa tão preocupada com estética como agora. Eu nunca tive qualquer vaidade maior que tomar banho, escovar os dentes e pentear os cabelos. Nunca me importei com a minha aparência apesar de sempre dar uma escutada de leve no último “grito da moda”, de assistir a filmes incompreensíveis e banais só pra ver o figurino dos personagens e de querer ser estilista quando era criança. É um paradoxo até, mas apesar de acompanhar a moda, mesmo a passos lentos e desleixados sobre uma sandália rasteirinha, mesmo sendo avessa a salto alto até hoje porque minha insegurança atinge níveis absurdos, eu sempre vi nesse mundo uma arte que vai além da futilidade que queima na fogueira das vaidades. Agora eu entendo que é uma questão de cuidado consigo, de forjar um mundo mais colorido, de respeito ao outro. Porque a aparência de um ser humano pode ser considerada um atentado violento ao bom senso, uma descortesia em alguns casos. É algo que vai além do cuidado narcisista, pra se exibir, pra voltar todas as atenções do mundo pra si. É algo que vai além de traços perfeitos e simétricos. É um compromisso com o próprio bem estar, um contrato de paz com a auto-estima. É pensar em beleza como forma de cuidar do outro cuidando primeiro de si, do seu espaço, do seu mundo e é nesse sentido que eu falo de respeito. Atualmente meu lado “fútil” anda tão escandaloso que dá gritinhos agudos e sapateia toda vez que vê uma cor nova de batom. Mas eu não vejo isso como ameaça à integridade da minha inteligência. Eu vejo isso como uma mudança boa, como uma transição pra um universo de possibilidades que eu nem sabia que poderia coexistir com outras visões de mundo que construí pelo caminho. A minha sensibilidade por questões sociais, educacionais, humanas não é afetada pela frivolidade de querer seguir uma tendência a usar o que todo mundo usa só pelo simples fato de que todo mundo usa. E se digo que é um paradoxo é porque pra ficar mais bonita você tem que consumir e isso é algo politicamente incorreto pra quem crê rigidamente em algumas idéias de esquerda e um golpe no estômago das feministas mais radicais, xiitas que desconsideram que alguns mecanismos socialistas simplesmente não funcionam num mundo como nosso. Há quem diga que o álcool é o Photoshop da vida real*. Eu digo que maquiagem é o Picasa. Acho justo colorir o que é cinza em mim e disfarçar defeitos pra fazer marketing pessoal só pra deixar as coisas mais interessantes pra mim e pros outros. Já falei disso uma vez aqui. Acho também que luzes no cabelo podem iluminar mais que o rosto, podem iluminar sua convivência com o mundo e consigo mesma. É só uma questão de temperar o insosso, de dar brilho ao opaco. Não quer dizer que o produto é falso. É uma mentira sincera e nada mais.
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* O autor desta frase é o Tio Dino. Onde especificamente ele citou isso não me recordo agora. É só procurar por ele na lista de Outras Possibilidades aí ao lado.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Só um texto para (re)começar

Este não é mais um texto sobre o ano novo. Esta não é mais uma avaliação do ano que passou, nem a estimativa de um ano que mal começou e parece que já está no fim por causa das pendências acumuladas e das urgências que só uma pessoa angustiada pela ansiedade entende e forja. Esta é apenas uma constatação das mudanças que vêm me acompanhando por aí, sorrateiras. Uma visão mais clara das coisas que aprendi sobre mim ao longo de nem sei quanto tempo. Esse é um texto cujas sentimentalidades provavelmente sejam repercussões de uma TPM feroz e da sensação de fim que as últimas datas festivas proporcionam. E com certeza é um texto carregado de clichês piegas porque esse é sempre o resultado das minhas tristezas cotidianas. Talvez por isso eu prefira fazer piada sobre a minha vida, porque piada nunca é piegas. Na verdade, eu nem sei bem do que se trata esse texto. É possível que seja só a necessidade de escrever, pra não perder a prática, pra não morrer no silêncio da minha imaginação, pra ter companhia. Este texto pode ser o registro de como estou no momento, de como me vejo, algo que sirva de material pra eu rir muito daqui a um tempo quando reler as besteiras que saem da minha cabeça prejudicada por uma esquizofrenia latente, mas que me ajuda a ver o mundo com mais cor. Essa é a justificativa que encontro no momento pra convencer as pessoas de que sou como sou. E de que isso traz sofrimentos e satisfações como em qualquer outra existência. Eu sou uma garota complicadíssima, como diria um amigo. Eu tenho um código de honra rígido, cheio de critérios que eu não abandono por serem a única coisa na qual acredito piamente, por serem meu muro de defesa contra tanta coisa ruim que a vida oferece e nos faz engolir a força, muitas vezes sem um copo d’água pra ajudar a descer. Eu tenho um mundo interno que me salva do desespero, da descrença, da vontade de desistir de tudo e de todos e que me faz ser alguém mais leve e tolerante. Vivo num mundo platônico que é mais seguro, porque fugir de alguns riscos que poderiam ser fatais me faz estar aqui, viva. Eu sobrevivo pelo que sou, pelo que me tornei. Sobrevivo pelos amores que cultivei ao longo do percurso. Sobrevivo pelos ciúmes, pela falta, pelo amor que sinto por essas pessoas e que muitas vezes me levam a caminhos e pensamentos tão sofridos.  Eu sou uma mulher que tem medo de envelhecer sem ter vivido e que tem pânico do desespero de estar só. Eu não quero ser uma pessoa desesperada. Nem só. Apesar de ter um pouco de desespero e solidão no peito a cada meia hora. Eu escrevo sobre minhas insatisfações adolescentes como se o mundo não fizesse mais sentido pra rejuvenescer minhas esperanças. Eu descubro que o mundo faz sentido no dia seguinte quando vejo que fiz uma tempestade em copo d’água pra chamar a atenção ou quando leio meu trânsito astrológico no Personare. Eu tenho pensamentos negativos sobre mim, os outros e o mundo todo santo dia e eu venço cada dia num esforço hercúleo, sem ninguém saber, pra ressignificar estes pensamentos e fugir de uma depressão porque só a esquizofrenia latente já me basta. Ás vezes, tenho vontade de escrever sobre isso, como agora, e tenho medo de me arrepender da repercussão que estes escritos possam trazer, porque certas revelações assustam até as pessoas mais próximas, até as almas gêmeas que nos conhecem como a si mesmas. E depois de tanto escrever eu confirmo que, sem muito esforço, consigo ser muito piegas quando estou triste, ou desesperada, ou me sentindo só, ou na TPM. Enfim, este não é mais um texto sobre o ano novo, nem sobre expectativas pra um recomeço. Este é só um texto pra continuar o movimento que não pode parar.